“Em 1980, cerca de dez por cento da população sofria de alergias, em 1999 eram trinta por cento e nos últimos vinte anos o número de pessoas alérgicas duplicou.» Quem o diz é Pedro Lopes da Mata, diretor do Instituto Clínico de Alergologia de Lisboa, que indica que a previsão é que em 2050 cerca de cinquenta por cento da população mundial será alérgica «nos países industrializados».
De acordo com a Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC), o aumento «das doenças alérgicas, nomeadamente na população ocidental, com um nível socioeconómico desenvolvido, não está ainda esclarecido mas vários dados parecem apontar para o ambiente e para o estilo de vida» dos ocidentais.
O outono, logo depois da primavera, é a altura do ano em que se manifestam mais crises alérgicas. Segundo o especialista, são os «ambientes interiores» – onde há a proliferação de elementos alergizantes como ácaros e fungos – e também exteriores – com algumas plantas que polinizam nesta época – os maiores agentes destas alergias.
Porque se fica mais vulnerável nesta estação?
- Redução da ventilação;
- Casas menos arejadas;
- Contacto com pessoas em espaços mais fechados;
- Utilização de equipamentos de aquecimento;
Com o intuito de reduzir a exposição a alergénios polínicos, a SPAIC e a Rede Portuguesa de Aerobiologia criaram um site (www.rpaerobiologia.com) que mostra a exposição de pólen em Portugal. A previsão é feita semanalmente e indica quais as plantas e árvores que podem afetar mais a saúde.
António Lorena Jordão, especialista em imunoalergologia, crê que a melhor forma de prevenir as alergias de outono passa por uma «avaliação regular de um alergologista de forma a obter um diagnóstico seguro». Aqui, explica, será desenvolvido um plano terapêutico individualizado que «permite ao doente alérgico passar praticamente incólume por uma estação difícil do ponto de vista alergológico».
Em 2015 prevê-se que cerca de 50 por cento da população mundial será alérgica «nos países industrializados»
O nariz entupido, o corrimento nasal ou reações cutâneas são algumas formas de manifestação destas alergias. O especialista do grupo Joaquim Chaves Saúde explica que estas reações dependem do órgão que é «atacado».
«As alergias determinam a libertação de certos mediadores químicos que são responsáveis pelos sinais e sintomas da reação alérgica. Esses sinais e sintomas dependem, portanto, do órgão-alvo em que esses mediadores são libertados».
«Se for no nariz haverá espirros frequentes, obstrução e corrimento nasal (normalmente transparente). Se ocorrer nos brônquios, manifesta-se através de tosse irritativa, pieira [ruído idêntico a um assobio] e falta de ar – sendo facilmente identificada como asma brônquica. Se a libertação dos mediadores ocorrer na pele, existem reações cutâneas com eritema e prurido intenso. Neste caso constitui-se aquilo que se chama de urticária aguda», acrescenta o especialista de 59 anos.
A predominância de reações alérgicas pode surgir em qualquer idade e não há registo de grandes diferenças em relação ao género. No entanto, explica Pedro Lopes da Mata, «na idade adulta, as mulheres apresentam maior incidência e formas mais graves de alergias, que estará em provável relação com as hormonas sexuais – julgando-se que as hormonas masculinas têm um caráter protetor».
Fatores ambientais, como a poluição ou o fumo do tabaco, podem também levar ao desenvolvimento de nova alergia.
Mas o que torna algumas pessoas mais vulneráveis às alergias? Existem duas condicionantes fundamentais, segundo o especialista: ter predisposição genética e ser exposto a um alergénio. «A predisposição genética está relacionada com os antecedentes familiares, sendo um fator de risco para desenvolver uma alergia e implicando uma condição crónica.
As probabilidades de contrair qualquer forma de doença alérgica variam entre cinco e quinze por cento quando nenhum dos progenitores é alérgico. E sobe para cinquenta a setenta por cento quando ambos sofrem da mesma forma de alergia», frisa o especialista.
António Lorena Jordão acrescenta que os fatores ambientais, como a poluição ou o fumo do tabaco, podem também levar ao desenvolvimento de nova alergia, lembrando que «a alergia pressupõe sempre uma exposição prévia ao alergénio em questão».
A qualidade de vida é afetada pelas alergias?
«De uma maneira geral, as alergias são muito incapacitantes e limitam as atividades diárias, especialmente quando falamos das que têm maior grau de sensibilidade e quando existe maior exposição ao alergénio», indica Lorena Jordão.
Incapacidades também defendidas por Lopes da Mata que dá o exemplo da rinite e da asma como condicionantes da qualidade de vida dos doentes. «Se tem falta de ar, as consequências vão depender da gravidade dessa eventual asma, mas deve ter sempre presente que, se não for tratada, provavelmente irá agravar-se. Outro exemplo: a rinite com maior obstrução nasal pode levar a alterações importantes na qualidade do sono, com consequências no seu estado ao longo do dia (cansaço e sonolência)», diz.”
Fonte: DN Life
Texto de Alexandra Pedro
Pedro Lopes da Mata – Alergologista: É diretor do Instituto Clínico de Alergologia em Lisboa. Após a formação na Faculdade de Medicina de Lisboa em 1982, é atualmente especialista em imunoalergologia pela Ordem dos Médicos.
António Lorena Jordão – Imunoalergologia: Licenciado pela Faculdade de Medicina de Lisboa, tem 56 anos e exerce nas clínicas do grupo Joaquim Chaves saúde em Cascais e Miraflores. Fez a especialidade em Imunoalergologia no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. É ainda diretor-geral da OM Pharma.